Guitarras de 7 cordas: o que são e por que existem
Salão Musical de Lisboa Loja de instrumentos musicais desde 1958
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Guitarras de 7 cordas: o que são e por que existem

Publicado por2025-12-03 por 49
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Descubram o que são guitarras de 7 cordas, as suas origens e história, quem as usa e que desafios e vantagens trazem.

Uma guitarra de 7 cordas tem, no geral, o mesmo formato, o mesmo número de pickups, o mesmo tipo de ponte que uma guitarra convencional. Tem apenas uma corda grave extra.

E essa corda muda tudo. Riffs mais graves estão ao vosso alcance, podem fazer acordes e inversões diferentes, criar linhas de baixo mais completas, tudo porque existe um novo território no braço para ser explorado. A guitarra de 7 cordas não é uma curiosidade, mas uma ferramenta com características específicas.

Neste artigo vão descobrir o que é exatamente uma guitarra de 7 cordas, as suas origens, quem a usa e em que situações pode ser útil para a vossa criatividade musical.

ÍNDICE

O que é, afinal, uma guitarra de 7 cordas?

As origens da guitarra de 7 cordas: do Renascentismo ao jazz, choro e samba

George Van Eps e a guitarra de 7 cordas no jazz

O violão de sete cordas na música brasileira

Por que é que guitarristas escolhem guitarras de 7 cordas?

Mais alcance grave e mais opções harmónicas

Afinações graves com mais estabilidade

Criar texturas novas em banda e em contexto a solo

Desafios e adaptações ao passar para uma guitarra de 7 cordas

Ergonomia e sensação ao tocar

Adaptação mental: onde está a nova corda?

Quando faz sentido darem o salto?

Conclusão: vale a pena explorar guitarras de 7 cordas?

O que é, afinal, uma guitarra de 7 cordas?

Na base, uma guitarra de 7 cordas é uma guitarra com uma corda grave extra, adicionada abaixo da sexta corda tradicional. Em muitos modelos essa corda é afinada em Si grave, por isso a afinação padrão costuma ser Si - Mi - Lá - Ré - Sol - Si - Mi / B–E–A–D–G–B–E . A afinação no resto das cordas continua igual à guitarra de 6 cordas.

Isto significa que podem usar os mesmos acordes, escalas e padrões que já conhecem e, ao mesmo tempo, ganhar notas mais graves sem perderem as referências nas cordas agudas. É como se o braço se prolongasse para baixo, sem vos roubar aquilo que já dominam nas posições habituais.

Esta gama de graves extra é excelente para tratar com distorção e aplicar em estilos mais pesados, sem que se perca a “voz” tradicional da guitarra. Por exemplo, numa guitarra barítono, normalmente afinada uma quarta abaixo, não só têm que fazer transposições de cabeça se quiserem tocar na mesma tonalidade, como também, têm menos agudos ao vosso dispor. É um som diferente, no geral. Com a sétima corda mantém o som da guitarra e ainda têm uma expansão.

Existem versões elétricas e acústicas deste conceito, que surgiu muito antes de haver heavy metal.

Guitarra
Elétrica Ibanez RG7421 WNF Walnut Flat 7 Cordas no Salão Musical

Guitarra Elétrica Ibanez RG7421 WNF Walnut Flat 7 Cordas no Salão Musical

As origens da guitarra de 7 cordas: do Renascentismo ao jazz, choro e samba

A história da guitarra de sete cordas estende-se por mais de 230 anos. Durante o período da Renascença (c. 1400–1600), a guitarra europeia tinha, em geral, quatro ordens, cada uma com duas cordas afinadas em uníssono dentro de cada ordem. Já em pleno Barroco (c. 1600–1750), passou a ser mais comum ter cinco ordens. No início do século XVIII, seis ordens duplas tornaram-se uma configuração corrente.

Até essa altura, a maioria dos instrumentos de cordas utilizava cordas de tripa. Por volta de 1800, começaram a surgir cordas de arame de boa qualidade. Estas novas cordas eram mais duráveis, mantinham a afinação durante mais tempo e, sobretudo, produziam um som mais forte do que as cordas de tripa tradicionais. À medida que o uso de cordas metálicas se generalizou, o maior volume sonoro levou os luthiers a experimentar mais com ordens de corda simples nos seus instrumentos e, em pouco tempo, a prática moderna de utilizar seis cordas simples tornou-se padrão.

A alteração do número de ordens nas primeiras guitarras também pode ser vista como um reflexo do desejo constante, por parte dos músicos, de aumentar a extensão do instrumento, um desenvolvimento semelhante ao que o alaúde já tinha atravessado. É provável que todos estes fatores tenham contribuído para o aparecimento da guitarra de sete cordas, que existe desde então.

A guitarra de sete cordas nunca alcançou na Europa a mesma aceitação generalizada que o instrumento de seis cordas, mas ainda assim vários compositores criaram um corpo de obra significativo para este tipo de guitarra. O guitarrista francês Napoléon Coste (1805–1883) compôs obras especificamente pensadas para guitarra de sete cordas. O guitarrista italiano Mario Maccaferri (1899–1993) foi um defensor reconhecido do uso de cordas graves adicionais (diapasons ou bordões) e também compôs para este instrumento.

Em contraste, na Rússia a guitarra de sete cordas tornou-se amplamente popular e desenvolveram-se escolas inteiras de técnica e interpretação à sua volta.

“O guitarrista” de V.A. Tropinin (1823)

“O guitarrista” de V.A. Tropinin (1823)

No Novo Mundo, uma guitarra séptima ou guitarra sétima, com catorze cordas dispostas em sete ordens duplas, é conhecida no México pelo menos desde 1776. Estes instrumentos ainda podem ser encontrados em uso, embora a guitarra moderna de seis cordas seja hoje muito mais comum.

Os instrumentos de sete cordas continuam a ter popularidade em algumas zonas da América do Sul, sobretudo no Brasil, onde se tornaram um instrumento importante na música de choro do século XIX, género que está atualmente a viver um período de revitalização.

E, no século XX, com as guitarras elétricas, as sete cordas ganharam outras características.

George Van Eps e a guitarra de 7 cordas no jazz

Nos Estados Unidos, o guitarrista de jazz George Van Eps é muitas vezes apontado como um dos pais da guitarra elétrica de 7 cordas. Já na década de 1930 ele colaborou com fabricantes para desenvolver modelos com uma corda grave extra.

O objetivo era claro. Van Eps queria enriquecer o acompanhamento e o trabalho a solo. Com a sétima corda, podia tocar linhas de baixo mais graves enquanto mantinha acordes completos no registo médio. Na prática, a guitarra aproximava-se da função de um pequeno piano harmónico e melódico nas mãos de uma só pessoa.

Esta abordagem continua relevante hoje. Se gostam de jazz, fusion ou música instrumental, uma guitarra de 7 cordas permite-vos criar arranjos a solo em que conseguem sustentar baixos, acordes e melodias sem depender de outro instrumento. Vejam como Van Eps desenvolvia as suas harmonias e melodias com a corda extra.

O violão de sete cordas na música brasileira

Na mesma época, no Brasil, o violão de sete cordas afirmava-se no choro e no samba. A sétima corda servia para algo muito específico: desenhar as famosas baixarias.

As baixarias são linhas de baixo melódicas que comentam a melodia principal. O violão de sete cordas passou a ocupar um lugar que antes pertencia a instrumentos graves de sopro, em grupos de rua e bandas mais antigas. Com a corda adicional, o instrumentista conseguia sustentar a harmonia e, ao mesmo tempo, criar linhas independentes que dialogam com o solista.

Existem essencialmente dois tipos de violão de 7 cordas: o de cordas de aço, popularizado pelo "grande mestre" Dino 7 Cordas, e o de cordas de nylon, que surgiu posteriormente. A afinação do violão de 7 cordas é igual à da guitarra clássica, mas com um Dó grave. Esta afinação é escolhida por servir o timbre natural do instrumento.

Dino 7 Cordas foi uma figura central nesta escola. O seu trabalho ajudou a definir a linguagem do violão de sete cordas no choro e no samba, influenciando gerações de músicos. Hoje, quem se dedica a este repertório encara o instrumento quase como um dialeto próprio dentro da família das guitarras.

Mas houve outros antes dele, que vale a pena explorar no Museu 7 Cordas.

Da música tradicional ao palco pesado: a entrada da 7 cordas no rock e no metal

Décadas mais tarde, a guitarra de 7 cordas entrou no rock e no metal. Os guitarrsiatsa queriam poder ter ritmos com mais peso, sem perder as capacidades melódicas do instrumento para solos a alta velocidade.

Em vez de descer a afinação de toda a guitarra e comprometer a tensão das cordas, muitos guitarristas optaram por adicionar uma corda grave. Isso permitiu riffs mais pesados, acordes mais escuros e voicings diferentes, preservando a sensação habitual nas seis cordas tradicionais.

Um dos pioneiros das guitarras elétricas de 7 cordas feitas para o shredding puro foi Steve Vai que, com a Ibanez, criaram a primeira guitarra de sete cordas produzida em massa. Estávamos no ano de 1989 e Vai usou a sua guitarra nova nas gravações do álbum Slip of the Tongue, dos Whitesnake, que se tornou no primeiro álbum de rock a usar uma guitarra com uma corda extra.

Podem ver aqui Vai em ação num momento de rock clássico com a sua guitarra e os Whitesnake.

Ibanez
Steve Vai JEMJR White no Salão Musical

Ibanez Steve Vai JEMJR White no Salão Musical

Com o tempo, a imagem da guitarra de 7 cordas colou-se ao metal moderno. No entanto, o instrumento não pertence apenas a esse universo. Vê-se cada vez mais 7 cordas em contextos de prog, rock alternativo, fusion, música mais ambiental, entre tantos outros estilos. Se precisam de mais graves ao vosso dispor, é a escolha a fazer, pelas razões que vamos ver a seguir.

Por que é que guitarristas escolhem guitarras de 7 cordas?

Nem todos precisam de uma guitarra de 7 cordas. Quando faz sentido dar esse passo, há sempre uma intenção musical clara por trás da escolha.

Mais alcance grave e mais opções harmónicas

A vantagem mais óbvia é o alcance grave extra. Com a sétima corda podem tocar riffs e power chords numa região onde a guitarra tradicional não chega sem baixar a afinação geral.

Isto é útil em estilos pesados, mas também em contextos em que querem preencher mais frequências sonoras, por exemplo em trios de guitarra, baixo e bateria. A guitarra de 7 cordas permite-vos aproximar da função do baixo em certos momentos, mantendo a clareza das vozes médias e agudas.

Em termos de harmonia, a nova corda abre caminho a voicings com tensões graves, inversões diferentes e acordes que combinam notas muito distantes entre si, algo difícil numa guitarra de 6 cordas em afinação padrão. E se descerem a corda mais grave para ficarem com um intervalo de quinta entre as duas primeiras cordas, ainda se trona mais interessante. Pelo menos, é o que Ola Englund acha,

Afinações graves com mais estabilidade

Quando se entra em afinações graves, a clareza do som deixa de depender apenas do número de cordas. O comprimento da escala, a tensão e o calibre das cordas tornam-se fatores decisivos.

Um modelo de 7 cordas com escala um pouco mais longa ajuda a manter a tensão nas afinações graves. Isto reduz o som “barrento” e a sensação de corda solta que muitos de vocês já sentiram quando descem muito a afinação numa guitarra de 6 cordas com escala padrão.

Há ainda guitarras barítono de 6 cordas com escalas mais longas que resolvem parte destes problemas. No fundo, a escolha entre uma barítono e uma guitarra de 7 cordas depende da forma como querem distribuir baixos, acordes e solos.

Jogo
de Cordas Daddario EXL110 7 .010 / .059 para Guitarra Elétrica 7 Cordas no Salão
Musical

Jogo de Cordas Daddario EXL110 7 .010 / .059 para Guitarra Elétrica 7 Cordas no Salão Musical

Criar texturas novas em banda e em contexto a solo

Em contexto de banda, a guitarra de 7 cordas ajuda a construir arranjos mais completos. Podem deixar que o baixo assuma determinadas regiões e, ao mesmo tempo, explorar registos graves em momentos específicos, sem sacrificar solos nas cordas agudas.

Em formato a solo ou duo, a 7 cordas convida a pensar o instrumento como um pequeno conjunto dentro de si. Linhas de baixo em simultâneo com acordes e melodias tornam-se mais naturais. Quem vem de influências como jazz, fingerstyle ou música brasileira encontra aqui um terreno muito fértil para explorar contrapontos, walking basses, e inversões inesperadas.

Desafios e adaptações ao passar para uma guitarra de 7 cordas

A transição de 6 para 7 cordas não é dramática, mas exige ajustes. O braço é mais largo, o corpo pode ter proporções ligeiramente diferentes e a cabeça precisa de acomodar mecânicas extra.

Ergonomia e sensação ao tocar

A primeira coisa que vão notar é a largura do braço. A mão esquerda precisa de se adaptar a um espaço maior, sobretudo em acordes que usam todas as cordas. A mão direita também sente a diferença, porque a zona de ataque ganha uma corda adicional que exige precisão.

Em pouco tempo essa sensação estranha tende a desaparecer. O importante é dar algum tempo ao corpo para assimilar a nova postura e evitar tensão desnecessária.

Guitarra
Elétrica Ibanez RGA742FM TGF 7 Cordas Flamed Maple Meranti no Salão Musical

Guitarra Elétrica Ibanez RGA742FM TGF 7 Cordas Flamed Maple Meranti no Salão Musical

Adaptação mental: onde está a nova corda?

O segundo desafio é mental. Ao início é comum enganarem-se e acertar na corda errada, principalmente quando alternam entre guitarras de 6 e 7 cordas.

Uma forma prática de acelerar a adaptação passa por três passos simples. Primeiro, adaptem riffs que já conhecem, deslocando-os para a corda extra. Depois, pratiquem escalas e arpejos que incluam a sétima corda em posições familiares. Por fim, criem pequenos exercícios rítmicos em que alternam entre a corda nova e as cordas tradicionais, para consolidar a memória muscular.

Quando faz sentido darem o salto?

Se ainda estão a aprender acordes básicos, ritmos simples e noções elementares de teoria, talvez seja melhor consolidar a guitarra de 6 cordas primeiro. Isso dá-vos uma base mais sólida e reduz a frustração inicial.

Conclusão: vale a pena explorar guitarras de 7 cordas?

As guitarras de 7 cordas nasceram de uma ideia simples. Dar mais alcance ao instrumento e permitir que uma só pessoa ocupe mais espaço musical. Ao longo do tempo essa ideia ganhou formas diferentes no jazz, no choro, no samba e no metal moderno.

Esse alcance é tão apelativo para alguns múscios que até se passaram a produzir guitarras com 8 cordas!

Se precisam de afinações graves com clareza, querem explorar novas possibilidades harmónicas, a guitarra com 7 cordas pode ser um passo natural. Se ainda estão a descobrir o instrumento, a melhor abordagem passa por consolidar primeiro a base na guitarra de 6 cordas e, depois, experimentar a sétima corda com calma.

O ideal é pegarem num modelo de 7 cordas, testar, sentir o braço, ouvir como reage às vossas ideias e perceber se ela responde ao que procuram. Quando a sétima corda deixa de ser apenas uma curiosidade e passa a servir uma intenção musical clara, o instrumento começa a fazer sentido no vosso caminho.

Queiram tocar com 6 ou 7 cordas, o Salão Musical tem as guitarras que procuram para o fazerem a vossa música. Visitem a nossa loja online e dêem corda(s) à vossa criatividade.

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